quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Via Algarviana - Um osso difícil de roer!

Princípio de setembro 2009, foi esta a data que agradou ao grupo de amigos que decidiu explorar esta Grande Rota GR13 que atravessa o Algarve.
Este é essencialmente um percurso pedestre, mas que é ciclável em mais de 90%, no entanto a dureza, mas também a beleza deste caminho é uma motivação extra para quem gosta realmente de fazer puro Btt.
Em termos logísticos, decidimos fazer esta aventura em autonomia relativa, ou seja, no final de cada etapa esperava-nos uma viatura com os sacos de cada membro, sacos esse que tinham básicamente mudas de roupa e material de higiene pessoal.
Préviamente, fizemos contactos para vários locais possíveis de alojamento, sem qualquer compromisso de reserva, e, em função dos fins de etapa, ligavamos a confirmar a dormida nessa noite. Nas primeiras duas não foi necessário activar o sistema, pois limitamo-nos a procurar locais de dormida no momento da chegada, e foi relativamente fácil resolver esta situação. Aliás, só foram necessárias 3 noites.
Saimos de Portimão ao fim do dia de Quinta-feira, dia 3 de Setembro. O plano foi o seguinte: fomos todos direitos a casa do Ricardo Pina com as bikes, e lá carregamos uma pick-up com as recpectivas... entretanto, um amigo de Ricardo, o Paulo Barbosa, a quem desde já agradecemos, disponibilizou-se para nos conduzir até Alcoutim - não é assim tão perto como isso, tendo em atenção que ainda tinha que regressar, depois de nos fazer companhia ao jantar.


Jantamos bem, num restaurante local e dormimos na Pousada da Juventude,


Para que não hajam confusões, a garrafa de vinho foi para o Rogério Pinto e para o Zé Boto, que estão ao centro.
Acordamos bem cedo, e dirigimo-nos para o local onde se inicia a Via Algarviana. Já li alguns relatos que diziam que a Via Algarviana começa mesmo junto à Pousada da Juventude, o que não corresponde à verdade... na realidade, o percurso passa junto à pousada, mas o local de início, é junto ao Guadiana, no lado esquerdo do cais fluvial.

ETAPA 1 - 04.09.2009
ALCOUTIM - CACHOPO - 87 KMS



Inicialmente, o grupo era composto por 5 amigos, mas rápidamente passou a 4, pois o Pedro não estava minimamente preparado para esta aventura, penso que substimou a dureza do percurso, e não se preparou convenientemente.
O Pedro teve uma atitude positiva ao perceber que esta era uma tarefa impossível para ele, e que de alguma forma ia condicionar o desempenho do grupo, embora ninguém estivesse ali para competir. Assim, de uma forma frontal comunicou-nos a decisão de ficar em Vaqueiros, pois a fadiga muscular e as cãimbras não davam tréguas. Este imprevisto impediu-nos de chegar a Salir no primeiro dia.
Inicialmente esta primeira etapa desenvolve-se ao longo do Guadiana, mas rápidamente inflete para o interior, começando a mostrar um perfil sinuoso, mas ainda assim simpático para pedalar. Encontramos muita caça nessa manhã, nomeadamente lebres e coelhos.
Paramos numa  aldeia para tomar o pequeno almoço. O pequeno café-minimercado, não estava preparado para fornecer refeições, pelo que comemos o que havia disponível.... sumos, bolachas, fruta em calda, etc.
Cada quilómetro era uma descoberta, pois era uma zona que nunca tinhamos explorado antes.




Bons estradões, com subidas e descidas suaves, foi assim durante grande parte da manhã, mas...


acontece aos melhores, neste caso fui eu... o primeiro e único furo que tive, porém, aconteceram mais alguns na equipa.


O Zé Boto, em vez de ajudar, dava ordems... quem precisa de amigos destes?
À medida que penetravamos no interior, o percurso ia ficando mais agreste, o calor ia apertando, e percebemos que era necessário ter mais atenção à sinalética, pois em algumas situações tinhamos que parar e observar bem a zona. A sinalética, ou mais própriamente, a marcação da Via Algarviana foi feita para utentes pedestres, por isso quando se passa mais rápidamente, ou com menos atenção num cruzamento, é fácil errar o percurso, assim, é preciso alguma atenção, e se não encontrarmos marcações durante 1 ou 2 kms, mais vale voltar atrás e verificar bem.
Este primeiro dia acabou numa zona bem dura, e ainda por cima, em função do que acabei de descrever em relação à sinalética, repetimos parte do percurso, por sinal a mais dura... mas aprendemos alguma coisa com isso.



Aqui estamos nós no Cachopo... se foi duro?.... basta olhar para a carinha deles lolollolololo.


e foi aqui neste Café Restaurante que jantamos e dormimos a primeira noite. Ainda antes do jantar, tratamos das bikes e arranjamos alojamento digno para para as mesmas... também merecem um bom repouso!

ETAPA 2 - 05.09.2009
CACHOPO - S. BARTOLOMEU DE MESSINES - 90 KMS

Depois de um bom pequeno-almoço, fizemo-nos à vida, e se pensamos que o dia de ontem tinha sido duro,
estavamos enganados.

Aqui, já depois do pequeno-almoço, e ainda fresquinhos...
Começamos logo com uma "subidinha" daquelas que nem desejamos ao nosso pior inimigo, as bikes reclamavam, mas ninguém abdicava de ir montado, e que remédio tiveram elas senão continuar a subir e subir, durante quilómetros, com boas pendentes... a serra algarvia é um osso duro de roer... quem anda por lá, sabe do que estou a falar!
O trilho serpenteava pelo relevo montanhoso, e em cada curva, pensava que estavamos a chegar ao topo, mas aquela serra não ia em cantigas, e presenteava-nos sempres com mais subidas. Quando já me estava a habituar à escalada, chegamos mesmo ao topo e começamos a descer... Penso que foi mesmo para chatear, para dizer que quem manda é ela.
Não nos fizemos rogados, e se a subida foi dura, a descida era a condizer, brutal, mais de 2 quilómetros de pura adrenalina... mas eu desconfiava da fartura, e quando chegamos lá em baixo, onde estava a saída?



no way out - o vale era tão fundo, que o sol ainda não tinha lá entrado às 11 da manhã. Depois de várias tentativas para encontrar uma saída, tivemos que nos resignar e voltar a fazer tudo no sentido inverso... se deu gozo a descer, a subir foi um pesadelo. Enquanto subíamos, iamos tentando perceber onde nos tinhamos enganado, e não foi quase nada, foi só no princípio da descida, na qual havia um desvio em cotovelo para a direita que dava acesso a um conjunto de colmeias.
Mesmo parados no desvio, foi difícil encontrar a sinalética, pois esta era muito discreta e meio tapada por arbustos, daí que fosse quase impossível perceber a mudança de direcção montado na bike e já com alguma velocidade.
Este foi o pior engano, e fez-nos tomar mais atenção daí para a frente.
Ainda durante a manhã, apanhamos bons trilhos, com boas subidas e grandes descidas, sempre feitas a abrir, em que tinhamos de abrir espaço uns dos outros por causa do pó. Fomos passando por várias terriolas perdidas no tempo e no espaço, pois ficam no meio do nada, em que os únicos ser vivos são os velhos e os cães, e algum gado. Abasteciamos de água nessas povoações.


O abastecimento principal foi já em Alte, embora tenhamos comidos umas sandes em Salir, depois de ultrapassar um relevo de respeito.
Antes da chegada a Alte, tivemos um bom "petisco", uma daquelas subidas em que as bikes se vingam de nós, bem inclinada e com pedra solta por todo o lado, impossível continuar montado... duro, duro, duro, e o calor não ajudava nada.




O abastecimento em Alte foi providencial, sandes, fruta em calda e líquidos, estavamos mesmo a precisar, pois tinhamos decidido continuar até onde fosse possível.
A saída de Alte ainda se fez a subir, depois entramos num bom planalto com um bom estradão, a partir do qual se conseguia avistar os aerogeradores que fazem guarda de honra a S. Bartolomeu de Messines, e pelos quais passariamos mais adiante. Lá de cima, junto aos aerogeradores, tinhamos S. Bartolomeu de Messines aos nossos pés, é já ali, daqui a 10 minutos estamos lá em baixo... foi a maior decepção da tarde.
Final da tarde, começamos a descer, tudo parecia perfeito, flectimos para a direita, exactamente o lado oposto da vila, continuamos por uma espécie de calçada romana, que se foi transformando num"single track" cada vez mais estreito e técnico, descendo e afunilando até não dar mais... toca a descer das bikes.


Parecia a selva, em que nos estavamos a dirigir para qualquer lado que parecia não ter saída.





Bem, acho que chegamos ao fundo do desfiladeiro, isto deve começar a subir...



Isto era o que já tinhamos feito...


O que está atrás do Ricardo, era o que ainda faltava fazer... só para sair do desfiladeiro!
Bem, os 10 minutos, transformaram-se em mais de hora e meia, sem dúvida, para mim a parte mais dura do GR13, tanto fisica como psicológicamente, pois coincidiu com o fim da etapa, aliado à percepção de um final de etapa fácil.
Aquilo que poderia ser bonito e aprazível num início de dia, tornou-se num auténtico pesadelo ao fim do dia.
Mas conseguimos chegar a bom porto, que é como quem diz, a S. Bartolomeu de Messines.



ETAPA 3 - 06.09.2009 
S. BARTOLOMEU DE MESSINES - MONCHIQUE - 71 KMS

Sabiamos que para chegar a Monchique, tinhamos que atravessar a serra de Silves e a Picota, mas chegamos à conclusão que isso são "peanuts" comparado com o que sofremos ontem, por isso toca a andar.
Logo à saída da vila tivemos alguns problemas de navegação, mas o Ricardo não se deixou enganar e trouxe-nos de volta ao "track" certo, não sem primeiro fazermos meia dúzia de quilómetros para "aquecer".
Numa da partes mais bonitas e planas desta etapa, foi onde senti as maiores dificuldades em acompanhar o ritmo da equipa, provávelmente a fadiga acumulada do último dia, aliada a um pequeno-almoço pouco reforçado num pequeno café da vila. Estou a falar da passagem pelas barragens de Silves, um local sempre aprazível e espectacular para fazer BTT.
Depois de passar as barragens, entramos na serra, e a forma física regressou ao normal... parece que rolar não é o meu forte!
Para quem já fez a serra de Silves, não é novidade nenhuma dizer que é uma zona agreste, dura, de relevos antipáticos, com zonas de "quebra-pernas" que fazem moça, mas ao mesmo tempo um grande desafio de BTT.



Se olharem com atenção, podem ver a subida que vem do fundo do vale, logo atrás de nós.
Sabiamos que, esta era uma etapa sem abastecimentos, pois entre Silves e Monchique, só existe serra, eucaliptos e medronheiros, daí que nos tenhamos abastecido de sólidos e líquidos em Silves, aí sim, já me senti com combustível suficiente para os desafios que se avizinhavam, e que de alguma forma já conheciamos, pois somos frequentadores assíduos desta zona do Algarve... digamos que não haviam surpresas como a de ontem.
As subidas foram-se fazendo, as descidas eram curtas e rápidas, e os quilómetros passando. A única descida digna desse nome, foi já no acesso ao vale para a Ribeira do Odelouca, por onde passou o Dakar, mas em sentido inverso (bem mais fácil com aqueles cavalos todos) e bem conhecida do Ricardo Pina como participante no Dakar, assim como minha, do Boto e do Paulo Martins.
No fim dessa descida, abastecemos de água numa quinta de gente simpática já nossos conhecidos, ainda picamos umas uvas, uvas que iriam causar graves problemas ao Zé Boto mais lá para a frente.
Continuamos, depois de nos refrescarmos com água fresquinha, passamos a ribeira do Odelouca, na zona onde estavam a construir uma ponte, e depois de cruzar o alcatrão, entramos outravez a subir, desta vez para começar a atacar a Picota.
Assim que saimos do alcatrão, começamos logo a subir... dava para sentir as pernas a trabalhar, o calor apertava cada vez mais, e depois de uma pequena descida que dava acesso a um vale onde encontramos alguma sombra, fizemos uma paragem estratégica para repor energias... e foi a partir daqui que começaram os problemas do Zé Boto. Mau estar fisico, indisposição, muito calor, tudo parecia estar contra o Zé, que à medida que subiamos se sentia cada vez pior. Ele bem tentava refrescar-se em tudo o que eram tanques e nascentes de água, mas  a cara dela não enganava, estava a ficar pálido.



Entretanto, o Paulo abastecia de amoras silvestres.... uma delicia!


Muito sinceramente, eu não conseguiria fazer o que o Zé fez, nas condições em que estava.
Com maior ou menor dificuldade, conseguimos atingir o topo da Picota.





Monchique lá em baixo, era o objectivo, ainda pensamos em seguir para Marmelete, mas dadas as circunstâncias, optamos por ficar mesmo em Monchique,... foi a opção mais sensata.
Iniciamos a descida por uma zona de bosques fantástica, sempre a bom ritmo, até chegar a um "singletrack".
Paramos, para tentar filmar e fotografar um de cada vez, e foi exactamente nessa paragem que o Zé Boto "deitou a carga ao mar", foi o melhor que podia acontecer. Só depois é que nos apercebemos que o Zé tinha tido uma paragem digestiva, pois tudo o que tinha ingerido tinha saido inteiro, e a partir daquele momento, o nosso amigo parecia outro, foi um alívio para todos.



A zona do "singletrack" que dava acesso a Monchique. Ali chegados, ainda deu para lavar as bikes e comer qualquer coisa numa esplanada da praça central, e era notória a diferença de disposição do Zé Boto, parecia que tinha renascido.

ETAPA 4 - 07.09.2009
MONCHIQUE - SAGRES (CABO DE S. VICENTE) - 103 KMS

O maior obstáculo do dia... a Fóia, naturalmente, mas com toda a gente já na melhor forma - O Zé fazia uma diferença do dia para a noite - a subida era apenas mais um desafio.
Saimos de Monchique direitos ao Convento, mais uma vez, a sinalética não ajudou muito.



Continuamos a subir, a moral era elevada, não havia muito para reclamar, a Fóia é a Fóia, não era própriamente uma desconhecia, sabíamos que era para sofrer, mas ao mesmo tempo para disfrutar da paisagem, - e também das amoras silvestres, que eram enormes naquela zona - algumas vezes carregando as bikes, dada a dificuldade dos trilhos.



Agora foi a vez do Paulo... tentei dar apoio moral, e parece que resultou. Ainda faltava um bocado para chegar ao topo da Fóia.


Estava quase, já se avistavam as antenas lá em cima, e ainda era bastante cedo, como se pode ver pelas sombras projectadas.
Mais um esforço, e cá estamos nós.


A parte complicada, estava resolvida, agora é gozar até marmelete.


Aqui, já o Paulo tinha feito mais uns quilómetros que nós, pois tinha feito esta descida abrir, e não reparou, mais uma vez que não era por ali, por mais que gritassemos, não valia a pena, ele não ouvia... só nos restou esperar que ele percebesse que estava só. Passados uns bons minutos, lá vinha o Paulo por aí acima, a tentar perceber o que tinha acontecido.
Depois de entramos no caminho certo, fizemos descidas espectaculares, mas ao mesmo tempo técnicas, e fizemos uma primeira paragem em Marmelete para abastecimento - uma sandes de presunto em pão caseiro, que mais parecia uma raquete de ténis, tal o tamanho das mesmas.


Estavamos a acabar as sandes, quando o Ricardo percebeu que tinha um furo lento, entretanto, o Paulo já estava a negociar um carregamento de lenha para a lareira - aqui não se perde tempo.
A partir daqui, foi sempre a rolar até Bensafrim, onde fizemos nova paragem para abastecimento. Era essencial reabastecer de líquidos, pois o calor apertava.
Um pouco mais à frente.... novamente o Ricardo, novo furo - não coloco imagem, porque só ficou registado em vídeo.
A seguir a Bensafrim, entramos num planalto, que ia acompanhando várias centrais de aerogeradores, e já dava para sentir o cheiro do mar.
O Paulo mais uma vez não conseguiu conter a adrenalina, e foi para a frente, desapareceu... resultado, falhou um desvio, e em vez de passar pela Ingrina, foi direito à Raposeira. Ao perceber o erro, foi em sentido contrário ao nosso encontro, apanhou-nos quando vinhamos a subir perto da Ingrina. Daí até Sagres, foi sempre a abrir, com vento pelas costas, e lá estava o Cabo de S. Vicente à nossa espera.
O Pedro não chegou lá na bike, mas chegou de na pick-up para nos transportar para Portimão...





TOTAL - 351 Kms
A equipa:
Ricardo Pina
Rogério Pinto
Paulo Martins
José Boto


Os nossos agradecimentos à "Fofa" e ao Pedro pelo apoio logístico.

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